Há 40 anos, o Duran Duran coleciona hits e parece aumentar cada vez mais o seu status como uma das maiores bandas do planeta. Afinal de contas, transitar tranquilamente entre o Pop e a sonoridade experimental não é algo fácil. Mas, para os britânicos, é quase uma necessidade — como fica mais do que evidente no novo disco FUTURE PAST, lançado em 22 de Outubro. Como o próprio nome diz, o novo trabalho representa uma união entre o passado, o presente e o futuro da lendária banda, trazendo influências que remetem ao álbum de estreia em 1981 e elementos que parecem prontos para estar na rádio nos dias atuais. Consolidando isso, o grupo contou com a produção sensacional de Erol Alkan e do incrível Giorgio Moroder, além de participações especiais de artistas como Graham Coxon (Blur), CHAI, Mark Ronson, Tove Lo e muito mais. O site Tenho Mais Discos Que Amigos bateu um papo sensacional com o tecladista e membro fundador Nick Rhodes, que refletiu sobre toda essa trajetória, falou sobre as experiências e o carinho com o Brasil e, claro, dissecou a nova obra.
Confira abaixo!
TMDQA!: Olá, Nick! Como você está?
Nick Rhodes: Olá! Nada mal, nada mal. [risos]
TMDQA!: Bom, que prazer estar falando contigo. Sou um grande fã da banda, então é realmente bem especial.
Nick: Obrigado!
TMDQA!: Queria começar falando sobre o quanto é divertido ouvir as coisas novas do Duran Duran, porque vocês estão sempre inovando. É perceptível que vocês estão sempre conectados com as novidades, com o que está acontecendo no mundo da música, e sempre incorporam essas coisas no que a gente pode chamar de “som do Duran Duran”. É algo que vocês percebem que estão fazendo? E como vocês acompanham tudo pra fazer isso?
Nick: Bom, primeiramente, nós todos somos grandes fãs de música. Eu acho que, para todos nós, a música é um dos grandes prazeres da vida e nenhum de nós jamais perdeu o apetite de ouvir música — músicas velhas, músicas novas, certamente quaisquer novas descobertas são sempre bem-vindas.
O que eu diria sobre a banda é que há sempre alguém com os ouvidos conectados ao que está acontecendo. Para o último álbum [Paper Gods] eu diria que foi mais o John [Taylor, baixista] que estava realmente de olho e selecionando os artistas que ele gostava e passando tudo para o resto de nós. Para esse álbum, tem sido na verdade o Simon [LeBon, vocalista]!
O Simon começou seu programa de rádio na Sirius[XM] e ele queria fazer com que o programa fosse baseado em encontrar novas músicas de artistas bem jovens, ou artistas que não são tão conhecidos e não ganham tanta exposição. E ele queria ir nessa jornada de descoberta, e ele se divertiu tanto fazendo isso! Então, eu acabei descobrindo coisas novas via Simon mais do que qualquer outro lugar nesse momento, porque ele já fez a curadoria.
E é interessante. Pelo fato de todos nós meio que termos um gosto parecido no que diz respeito à música moderna — gostamos de um pouco de música Dance, um pouco de música eletrônica, sabe, um pouco de Indie — mas tudo que o Simon já escolheu realmente funciona bem para mim, como playlists. Então, foi assim que isso chegou nas nossas vidas dessa vez.
TMDQA!: Que legal. Bom, claro, queria falar um pouco sobre as prévias que já ganhamos desse novo disco e queria começar por “ANNIVERSARY”. Digo isso da melhor forma possível: essa música tem o som clássico do Duran Duran, algo que não ouvíamos há algum tempo. Foi algo que vocês buscaram quando a escreveram?
Nick: Essa música, em particular, eu diria que é a música na qual nós mais referenciamos a nós mesmos. Ela foi realmente escrita como uma comemoração pelas nossas quatro décadas juntos, e nós pensamos que depois desse tanto de tempo nós poderíamos nos permitir referenciar certas faixas — especificamente “Wild Boys”, com certeza, com as pequenas frases instrumentais e o ritmo.
Mas muita gente comentou sobre como ela soa bastante Duran Duran. E eu acredito que, mesmo que a gente tenha tentado diversificar e tenha ido em direção ao Funk, à música eletrônica, ao Dance, Disco, todas essas áreas diferentes que amamos, há de fato coisas no fim das contas que nos tornam identificáveis, que estão no nosso DNA, no nosso DNA musical.
Acho que Erol Alkan, um dos produtores do álbum conosco, era um grande fã e sabia coisas sobre lados B de versões de 12″ que lançamos que até eu tinha esquecido. [risos] E eu acho que através desse conhecimento, ele encontrou o que era que ele amava sobre o Duran Duran e foi uma daquelas coisas onde ele falava, “Vocês podem tentar desse jeito aqui?”, e todos nós falávamos, “Sim, claro! Nós teríamos feito isso”.
Então, sim, foi intencional a partir da intenção do Erol. [risos] A partir disso nós certamente acabamos com algumas faixas que eu acredito que são, provavelmente, mais parecidas com o nosso material mais antigo do que havíamos lançado há algum tempo.
TMDQA!: Que legal saber disso. Mas, ao mesmo tempo, acho que “MORE JOY!” tem justamente o espírito oposto — essa coisa da inovação, já que ela soa tão diferente de tudo.
Nick: Essa é pessoalmente uma das minhas preferidas. Quando nós começamos a escrevê-la, começou com aquela pequena caixinha de ritmo e o sequenciador que você ouve no começo e soa quase como um Casio dos anos 80 ou algo assim. E isso me deu a semente da ideia de que ela era como um jogo de fliperama japonês de 16 bits ou até 8 bits dos anos 80.
E eu pensei, “E se de repente essa música fosse como se você estivesse dentro desse videogame? Como poderia funcionar?”. E quando todos nós começamos a tocá-la juntos, acabou indo para uma direção diferente, porque o Graham, o Graham Coxon, estava tocando essa linha de guitarra maluca, ousada que estava tão fora de controle que eu pensei, “Bom, isso soa como se fosse de um videogame, com certeza”. E aí nós pegamos esse grito de “More Joy” [mais alegria] que foi tão animador, estava simplesmente fazendo todo mundo sorrir.
Eu pensei, “Ah, se nós apenas pudéssemos conseguir umas vozes femininas japonesas, isso soaria ainda mais autêntico para mim”. E o Simon sugeriu o CHAI, que ele vinha tocando em seu programa de rádio, e nós todos ouvimos e instantaneamente nos apaixonamos e pensamos que se elas topassem, seria fantástico. E elas toparam, e eu acho que elas trouxeram uma atmosfera tão fantástica à música.
É uma loucura tudo sobre ela. A letra foi feita ao estilo de William Burroughs: com recortes, mudando os trechos de lugar. É algo que nós não costumamos fazer; o Simon gosta de sentar e realmente pensar no conceito e seguir com isso, e eu tenho uma tendência a ser muito mais experimental com as letras, então eu comecei essa.
Mas preciso dizer, é uma das minhas preferidas simplesmente porque você não consegue colocá-la em nenhum lugar. Ela não soa como nada.
40 anos de carreira e carinho pelo Brasil
TMDQA!: Exatamente! E eu acho fantástico que, mesmo com todas as mudanças de direção e com tanto tempo de banda, vocês têm fãs que estão ali curtindo tudo e apoiando sempre. O que isso significa pra você?
Nick: Olha, a resposta simples é dizer que sem os fãs, claro, teria sido bem difícil que nós sobrevivêssemos por tudo isso. Nós sempre fomos imensamente gratos ao nosso público, às pessoas que ficaram do nosso lado por toda a jornada, mas na verdade também com qualquer pessoa que nos encontrou no meio do caminho ou até mesmo quem só apareceu por um momento e depois seguiu a vida.
A música é sobre fazer conexões. É sobre algo com o que você se relaciona. É o diário de nossas vidas, para a banda, e há outras músicas de outras pessoas que pontuam épocas na minha vida, com as quais eu me lembro de coisas específicas. E a música é uma coisa poderosa assim! Eu acho que, se as pessoas te aceitam em suas vidas ou abraçam o seu som e você se tornou uma parte integral do que elas fazem, isso por si só é uma relação muito poderosa e especial. Eu sou sempre muito grato quando sou convidado para entrar.
E, como fãs, nós mesmo temos muitas outras influências e músicos em nossas vidas que ouvimos — e como falamos anteriormente, muitos desses são novos, o que faz com que as coisas sejam ainda mais empolgantes.
TMDQA!: Falando dos fãs, o Brasil tem algum dos seus maiores fãs no planeta, né? Estão com saudades de tocar aqui?
Nick: É claro! Estamos com saudades de tocar em todos os lugares! A última vez que estivemos na América do Sul foi no Lollapalooza, e foram só alguns shows. Então, nós pensamos, “Cara, a gente realmente precisa voltar pra América do Sul e fazer uma turnê um pouco mais extensa e certamente ir a outros países também”. O Brasil é um país tão grande que nós poderíamos passar tanto tempo aí, e eu adoraria explorá-lo enquanto não estamos tocando!
Mas, sabe, com as coisas do jeito que estão pelos últimos 18 meses ao redor do mundo, claro que nenhum de nós sabe como as coisas estão. Nós estamos planejando sair em turnê no ano que vem e ir ao máximo de lugares que for possível, mas eu simplesmente ainda não sei. Com certeza, o que eu posso te dizer, é que na lista do Duran Duran a América do Sul está sempre perto do topo do que queremos fazer.
TMDQA!: Você tem alguma memória preferida de suas passagens pelo Brasil?
Nick: Tenho tantas memórias favoritas do Brasil! A primeira vez que fomos ao Brasil, nós subimos para ver a estátua do Cristo [Redentor] e assistimos a um show dali do topo da montanha, e isso foi incrível porque eu nunca tinha visto nada igual. Esse espírito meio carnavalesco — não foi durante o Carnaval, mas o show foi incrível.
Eu também sempre amei as pessoas. É divertido sair para caminhar, andar um pouco pela praia e só ver todo mundo, essa cultura, esse estilo de vida de se divertir. Na última vez, ou na vez anterior, eu me lembro de ter olhado pela minha janela do hotel para a praia e estava rolando essa chuva torrencial! De verdade, absolutamente torrencial. E aí de repente tudo só desapareceu e secou e o Sol estava lá novamente. São esses tipos de coisa, esses pequenos flashes de coisas, de cores. Eu sempre penso no Brasil colorido. Tudo sobre ele, a maravilha do país.
E, claro, o nosso grande amigo Milton Nascimento, com quem nós trabalhamos [em “Breath After Breath”]. Eu me lembro disso com muito carinho!
TMDQA!: Essa parceria é fantástica mesmo. Ao mesmo tempo em que vocês estão sempre inovando, acho que algumas pessoas tentam colocar vocês em um caixinha — “ah, o Duran Duran é uma banda Pop”, ou “uma banda New Wave”. Isso incomoda?
Nick: Eu não gosto de ser colocado em uma caixa, assim como a maioria das pessoas. Eu prefiro ser livre e andar por aí, fazendo o que eu bem quiser. Mas ao mesmo tempo, eu entendo a necessidade das pessoas de tentar classificar ou categorizar as coisas para que elas possam dizer, “Ah, é esse tipo de música”. E sempre foi difícil fazer isso com o Duran Duran, por sermos tão mais diversos e gostarmos de tentar coisas diferentes.
Então eu não acho que a gente tenha sofrido tanto com isso. Eu fico muito feliz por nós termos estabelecido nossos parâmetros de forma bem aberta no primeiro álbum. O fato de que tínhamos ali uma música de seis minutos e meio instrumental com uma orquestra, sem vocais, e estava ao lado de “Girls On Film” e “Planet Earth”, e tínhamos a música “Waiting for the Night Boat” por lá… ninguém sabia muito bem o que fazer conosco.
TMDQA!: Esse disco é demais, e faz sentido. Indo para um outro assunto, eu sinto que uma das mudanças mais bruscas da banda foi a saída do Andy Taylor. Sempre achei que você, como tecladista, se contrastava muito bem com as guitarras dele, tinha uma espécie de dualidade. Nessas novas músicas, sinto isso bem forte novamente. Como foi reencontrar esse equilíbrio sem o Andy?
Nick: Eu e o Andy sempre tivemos uma ótima relação musical, com certeza. Isso significa que nós sabíamos como não atropelar um ao outro: se eu estivesse tocando algo que fazia os acordes, o Andy talvez tocaria uma linha mais melódica. Ou se eu estivesse tocando a linha melódica, o Andy faria os acordes. Então, olhávamos para as trocas entre nós e como as coisas funcionavam para a harmonia da música.
Aí, nós tivemos o Warren [Cuccurullo] na guitarra por um bom tempo, e o Warren era um guitarrista muito mais experimental e, na minha opinião, fez algumas coisas extraordinárias com o Duran Duran — claro, nada menos do que o Wedding Album, com “Come Undone” e “Too Much Information” e “Ordinary World” —, mas era um tipo diferente de guitarra.
E aí tivemos o Andy de volta por um tempo novamente, e eu acho que o Astronaut meio que só se encaixou e o álbum nunca lançado, Reportage, no qual o Andy está, também tinha algumas peças bem interessantes que soavam mais como nossas coisas do início.
Aí, depois disso, nós nos vimos sem um guitarrista e fizemos o álbum Red Carpet Massacre, que nós nunca teríamos sido capazes de fazer se tivéssemos um guitarrista em tempo integral. Há relativamente muito, muito pouca guitarra naquele disco — ela está ali, tem umas guitarras bem cheias de groove, algumas belas peças dedilhadas de guitarra, mas não é muito.
Então, de certa forma, essa liberdade que nos foi concedida por acidente ou por acaso, pelo Andy não estar ali, eu acho que realmente nos permitiu experimentar mais e aumentar os nossos horizontes. E não é até esse álbum, quando tivemos o Graham Coxon compondo conosco, que nós voltamos a esse som novamente em que a guitarra e o teclado tocam mais entre si e em conjunto.
O John Frusciante, que é um artista extraordinário, esteve no último álbum, mas as partes dele foram todas feitas por cima das faixas que já tínhamos, de forma remota. Foi uma atmosfera bem diferente. Mas eu preciso dizer que tocar junto com o Graham foi pura alegria. Ele é criativo e ele tem uma “agressividade” que eu amo.
Eu sempre amei a guitarra. Às vezes eu acho que as pessoas pensam que, por eu tocar teclado, eu não gosto de guitarra — isso não poderia estar mais longe de ser verdade! Eu acho que não há nada melhor do que um grande guitarrista criativo, e eu cresci ouvindo o Mick Ronson, e o Phil Manzanera, do Roxy Music, e claro, o Nile Rodgers e o Chic, e todas essas coisas ainda ressoam comigo.
TMDQA!: Por fim, não posso deixar de falar sobre o incrível Giorgio Moroder, com quem vocês se juntaram para “TONIGHT UNITED”. Como foi trabalhar com ele?
Nick: Bom, o Giorgio Moroder e nós, foi algo como navios que se cruzam à noite. [Um ditado em inglês para falar sobre um encontro raro e intenso, basicamente.] Porque se houve em algum momento o produtor perfeito para o Duran Duran, em qualquer estágio da nossa carreira, era o Giorgio Moroder. Nós amamos virtualmente tudo que ele já fez, e em particular eu sinto um amor pela Donna Summer, a trilha sonora de O Expresso da Meia-Noite e a trilha sonora de A Marca da Pantera, e provavelmente acima de tudo o disco do Sparks, No. 1 in Heaven, que foi uma grande influência para nós.
Era essa união da bateria ao vivo com sequenciadores e sintetizadores e belas melodias — nós só adicionamos mais guitarra! [Esse disco foi lançado] realmente bem no ponto em que estávamos formando a banda, então o Giorgio sempre foi um grande herói nosso e estar no estúdio com ele foi especial para nós. Todo mundo estava se comportando direitinho. E ele é o maestro! Há um motivo pelo qual ele tem 3 Oscars ou quantos quer que seja atualmente, e pelo qual ele foi capaz de criar todas essas faixas.
Ele simplesmente entende a música Dance e como arranjar algo, e nós queríamos fazer a união perfeita entre o Giorgio Moroder e o Duran Duran. Nós fizemos duas faixas juntos, a outra se chama “BEAUTIFUL LIES”, e eu acho que, sim, nós conseguimos alcançar a mistura Moroder-Duran que queríamos. Foi realmente emocionante.
TMDQA!: Nick, muito obrigado pelo seu tempo. Mal posso esperar pelo disco! Até a próxima!
Nick: Obrigado! Foi ótimo bater um papo.
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